sábado, 3 de julho de 2010

Coesão e coerência - Prova Brasil


Assaltos insólitos

Assalto não tem graça nenhuma, mas alguns, contados depois, até que são engraçados. É igual a certos incidentes de viagem, que, quando acontecem, deixam a gente aborrecidíssimo, mas depois, narrados aos amigos num jantar, passam a ter sabor de anedota.

Uma vez me contaram de um cidadão que foi assaltado em sua casa. Até aí, nada demais. Tem gente que é assaltada na rua, no ônibus, no escritório, até dentro de igrejas e hospitais, mas muitos o são na própria casa. O que não diminui o desconforto da situação. Pois lá estava o dito-cujo em sua casa, mas vestido em roupa detrabalho, pois resolvera dar uma pintura na garagem e na cozinha. As crianças haviam saído com a mulher para fazer compras e o marido se entregava a essa terapêutica atividade, quando, da garagem, vê adentrar pelo jardim dois indivíduos suspeitos. Mal teve tempo de tomar uma atitude e já ouvia:

— É um assalto, fica quieto senão leva chumbo.Ele já se preparava para toda sorte de tragédias quando um dos ladrões pergunta: — Cadê o patrão? Num rasgo de criatividade, respondeu:


— Saiu, foi com a família ao mercado, mas já volta. — Então vamos lá dentro, mostre tudo. Fingindo-se, então, de empregado de si mesmo, e ao mesmo tempopara livrar sua cara, começou a dizer: — Se quiserem levar, podem levar tudo, estou me lixando, não gosto desse patrão.

Paga mal, é um pão-duro. Por que não levam aquele rádio ali? Olha, se eu fosse vocês levava aquele som também. Na cozinha tem uma batedeira ótima da patroa. Não querem uns discos? Dinheiro não tem, pois ouvi dizerem que botam tudo no banco, mas ali dentro do armário tem uma porção de caixas de bombons, que o patrão é tarado por bombom. Os ladrões recolheram tudo o que o falso empregado indicou e saíram apressados. Daí a pouco chegavam a mulher e os filhos. Sentado na sala, o marido ria, ria, tanto nervoso quanto aliviado do próprio assalto que ajudara a fazer contra si mesmo.
SANTANNA, Affonso Romano. Porta de Colégio e Outras Crônicas. São Paulo: Ática 1995. (Coleção Para Gostar de Ler).


No trecho “e o marido se entregava a essa terapêutica atividade” (l. 18-19), a expressão destacada substitui

(A) fazer compras.

(B) ir ao mercado.

(C) narrar anedotas.

(D) pintar a casa.